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sábado, 23 de outubro de 2010

Jean-Paul Sartre "a existência precede a essência"

Originado por Jean-Paul Sartre, a frase "a existência precede a essência" passou a ser um clássico, até mesmo a definição, a formulação do coração da filosofia existencialista. É uma idéia que se transforma a metafísica tradicional em sua cabeça, porque toda a filosofia ocidental, sempre foi assumido que a "essência" ou "natureza" de uma coisa é mais profunda e eterna do que sua mera existência "." Assim, se você quiser entender uma coisa, o que você deve fazer é aprender mais sobre sua "essência".

Deve ser entendido que Sartre não aplica este princípio universalmente, mas apenas para a humanidade. Sartre argumentou que  eram essencialmente dois tipos de ser. A primeira é ser-em-si (l'en-soi), que é caracterizada como fixa, completo e ter absolutamente nenhuma razão para sua existência - ela simplesmente é. Este artigo descreve o mundo dos objetos externos. O segundo é ser-para-si (pour soi-le), que é caracterizada como dependente do ex de sua existência.

Sartre, como Husserl, argumentou que é um erro tratar os seres humanos da mesma forma que tratamos os objetos externos. Quando consideramos, por exemplo, um martelo, podemos compreender a sua natureza, listando suas propriedades e análise da finalidade para a qual ele foi criado. Martelos são feitos por pessoas, por certas razões - em certo sentido, a "essência" ou "natureza" de um martelo existe na mente do criador. Assim, pode-se dizer que quando se trata de coisas como martelos, a essência precede a existência.

Mas isso é a mesma verdade do ser humano? Tradicionalmente, este foi considerado o caso, porque as pessoas acreditam que os seres humanos foram criados por Deus. Segundo a mitologia cristã tradicional, a humanidade foi criada por Deus através de um ato deliberado de vontade e com idéias específicas em mente, no contexto do cristianismo, os seres humanos são como martelos, porque a "essência" (a natureza, características) da humanidade existiu na mente eterna de Deus antes de qualquer ser humano real existiu no mundo.

Mesmo muitos ateus retidos dessa premissa básica, apesar do fato de terem dispensado com a premissa de acompanhamento de Deus. Eles assumiram que os seres humanos possuíam alguma "natureza humana" especial restrita que uma pessoa poderia ou não ser - basicamente, que todos eles possuíam uma "essência", que precedeu a sua "existência".

Sartre, no entanto, vai um passo além e rejeita esta idéia, argumentando que era necessária para quem ia levar a sério o ateísmo. Não é suficiente simplesmente abandonar o conceito de Deus, é preciso também abandonar todos os conceitos que derivam e eram dependentes de Deus - não importa o quão confortável e familiar que poderia ter se tornado ao longo dos séculos.

Sartre chama a duas conclusões importantes a partir deste. Primeiro, ele argumenta que não há dada a natureza humana comum a todos, porque não há Deus para dar-lhe. Os seres humanos existem, que é muito claro, mas é só depois que eles existem, existe há "essência" que pode ser chamado "humano" pode se desenvolver. O ser humano deve desenvolver, definir e decidir o que sua "natureza" será através de um envolvimento com eles mesmos, a sociedade e o mundo natural ao seu redor.

Em segundo lugar, Sartre argumenta que, devido a "natureza" de cada ser humano é dependente dessa pessoa, essa liberdade radical é acompanhada de uma responsabilidade tão radical que Ninguém pode dizer simplesmente que "era na minha natureza" como uma desculpa para o comportamento de alguns deles. Seja qual for a pessoa é ou não é totalmente dependente de suas próprias escolhas e compromissos - não há mais nada a que recorrer. As pessoas não têm ninguém para culpar (ou elogios), mas eles mesmos.

Apenas neste momento de extremo individualismo, no entanto etapas, Sartre volta e lembra-nos que não somos indivíduos isolados, mas sim os membros das comunidades e da raça humana. Não pode haver uma natureza humana universal, mas certamente é uma condição humana comum - estamos todos juntos nessa, estamos todos vivendo na sociedade humana, e todos nós somos confrontados com o mesmo tipo de decisões.

Sempre fazemos escolhas sobre o que fazer e fazer compromissos sobre como viver nossas vidas, estamos fazendo também a afirmação de que esse comportamento e que esse compromisso é algo que tem valor e importância para os seres humanos - em outras palavras, apesar do fato de que não há nenhuma autoridade objetivo nos dizendo como se comportar, isso ainda é algo que os outros também devem escolher.

Assim, nossas escolhas não afetam apenas a nós mesmos, eles também afetam os outros. Isso significa, por sua vez, que não são apenas responsáveis por nós mesmos, mas também têm alguma responsabilidade para os outros - para o que escolher e o que eles fazem. Seria um ato de auto-engano ao fazer uma escolha e, em seguida, ao mesmo tempo, desejam que os outros não façam a mesma escolha. Aceitar alguma responsabilidade para os outros a seguir o nosso exemplo é a única alternativa.

domingo, 19 de setembro de 2010

Liberdade?

De uma forma geral, a palavra "liberdade" significa a condição de um indivíduo não ser submetido ao domínio de outro e, por isso, ter pleno poder sobre si mesmo e sobre seus atos.
O desejo de liberdade é um sentimento profundamente arraigado no ser humano. Situações como: a escolha da profissão, o casamento e o compromisso político ou religioso, fazem o homem enfrentar a si mesmo e exigem dele uma decisão responsável quanto a seu próprio futuro.
Mas até qual ponto vai nossa liberdade? estamos submisos a nossa cultura, entrelaçados em paradigmas culturais que ditam nossa forma de pensar.
Do ponto de vista legal, o indivíduo é livre quando a sociedade não lhe impõe nenhum limite injusto, desnecessário ou absurdo. Uma sociedade livre dá condições para que seus membros desfrutem, igualmente, da mesma liberdade. Em 1948, a Assembléia Geral das Nações Unidas adotou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que engloba os direitos e liberdade que a Organização das Nações Unidas (ONU) considera que devam ser os objetivos de todas as nações.
A capacidade de raciocinar e de valorizar de forma inteligente o mundo que o rodeia, é o que confere ao homem o sentido da liberdade entendida como plena expressão da vontade humana.
Teorias filosóficas e políticas, de todos os tempos, tentaram definir liberdade quanto a determinações de tipo biológico, psicológico, econômico, social etc. As concepções sobre essas determinações, nas diversas culturas e épocas históricas, tornam difícil definir com precisão a idéia de liberdade de uma forma generalizada.
Muitas vezes temos a vontade de expressar algum tipo de opinião, a qual muitas vezes é mal vista por outras pessoas ou simplesmente temos medo de divulgá-la pois não sabemos exatamente o que podemos falar e nos portar perante algumas situações as quais dividem muitas opiniões, assim temos medo de que tenhamos algum tipo de repreensão por causa de algum tipo de argumento transmitido.
Numa concepção mais radical a liberdade seria uma ilusão? se a condição literal da palavra liberdade é não ser submetido ao domínio de outro, isso seria na verdade uma útopia, já que somos seres em constante aprendizado, aprendendo sob a ideia de terceiros influenciados pelas mesmas, levando em conta o meio cultural no qual vivemos ditando a forma "nomal" de pensar, vestir, comer, agir etc. Então onde esta a liberdade ?

Análise de “A Náusea”, de Jean Paul Sartre

Introdução

Em "A Náusea", Sartre nos mostra Antoine Roquentin, um historiador letrado e viajado, que chega à cidade de Bouville ("boul" indicando "lama" e metaforicamente "impureza") a fim de escrever a biografia do marquês de Rollebon, figura pitoresca e de excentricidade fascinante, que vivera na cidade durante o século XVIII. Ao iniciar seus trabalhos, logo se desencanta de forma irreversível não só pela biografia, como também pela própria sociedade e condições humanas com as quais se depara em Bouville. Roquentin é, então, acometido por uma (a priori) estranha sensação de aversão ao ser humano e sua condição existencial - a "náusea". Cercada de um niilismo exacerbado e elucubrações de alta profundidade intelectual, "A Náusea" nos mostra um protagonista despadronizado e repelido pelas próprias contestações que faz a respeito da existência e sua falta de sentido, ou seja, a respeito da gratuidade e ilogicidade da existência, por si só desprovida de essência. Trata-se, portanto, da saga de um personagem conturbado e por vezes beirando a loucura, tal é a nudez existencial a que ele se expõe.

Mecanismos de busca essencial

Como dito, para Antoine Roquentin a existência é gratuita e ilógica e essa constatação por cada um de nós é algo terrível e fora de aceitabilidade. Decorre dessa falta de essência verdadeira uma busca de cada ser humano por sua essência artificial e iludida, havendo, para esse fim, uma série de mecanismos que tornam a existência mais suportável.
Um desses mecanismos próprios de cada um é o que ele chama de "captura do tempo". Trata-se de uma organização memorial para tornar pequenos fatos, simples existências, marcos de um sentimento aventureiro, fazendo desse "grande" fato um polarizador atrativo dos fatos precedentes, como se esses tivessem levado ao grande fim. Dessa forma, organiza-se a memória humana a partir de fins, na ordem inversa. Esse mecanismo é apontado por Roquentin como uma poderosa instrumentação da mentira, a qual ele mesmo usou sem se dar conta, num ato involuntário de sua própria condição de homem.

Outro mecanismo elucidado pelo protagonista é o mundo do conhecimento e das ciências, criado pelas "grandes mentes" ainda presas em sua busca essencial. Esse mundo, que trata da origem das espécies, da conservação da energia no universo e chega a conferir uma essência "preguiçosa" até às janelas, "com seu índice de refração", é ilusório e torna o ser humano um conhecedor de seu mundo, um dominador de si mesmo e dos outros, num processo de profunda ilusão. Fazendo uma analogia à alegoria da caverna, de Platão, o homem imagina-se conhecedor de todo um universo, enquanto, na verdade, busca conhecer minuciosamente cada parte (por menor que seja) de sua caverna, sem jamais vislumbrar seu exterior. É mais um engano, sadio para a manutenção da existência.
Um outro mecanismo apontado é o de ordenamento das glórias passadistas pela burguesia acrítica e inábil para a contestação meditativa. Assim, glórias de outras gerações, baseadas no capital e no valor epidérmico do mundo, são relembradas de forma a conferir uma essência, uma lógica, à existência dos burgueses do presente. Esse mecanismo detestável a Roquentin lhe rouba críticas muito contundentes, chamando de "salafrários" a todos os burgueses de Bouville, constituintes desse espécime humano alienado.

Dialogando com Descartes

Da célebre frase "Penso, logo existo", Sartre, pela voz de Antoine Roquentin, faz um aprofundamento filosófico bem à maneira do Existencialismo, do qual Sartre é figura proeminente. Assim, para o protagonista, a consciência da existência, o sentir-se existir, advém do fato do pensamento, ou seja, à medida que se pensa, sente-se existir. Essa consciência é algo horrível para Roquentin e torna-se ainda pior quando ele constata que a única forma para fugir à existência é fugir ao pensamento. Mas nos perguntamos: como fugir ao pensamento se a necessidade de fuga já é um pensamento, que, como qualquer outro, nos reconduz à existência? Estamos presos, portanto, à existência, pois o caminho do pensamento e a chegada ao sentimento de existir são indesvencilháveis. Eis aí uma bela explicação à referida "náusea", que intitula a obra, pois quem suportaria estar perfeitamente cônscio de sua prisão sem, ao menos, sentir-se "nauseado"?

Humanismo x Existencialismo


Uma das únicas personagens com quem Antoine Roquentin se relaciona no livro é o Autodidata, um humanista ferrenho que aprendeu grande parte de seu vário conhecimento nos livros da biblioteca municipal, onde trabalha. De orientação filosófica bastante adversa à de Roquentin, ele representa uma personificação do Humanismo. Resulta dos encontros dos dois na biblioteca uma série de discussões de alta profundidade intelectual, num gládio de alto nível entre as duas posturas - a do Humanismo (representada pelo Autodidata, credor das capacidades humanas diferenciais) e a do Existencialismo (representada por Roquentin, niilista, misantrópica e repleta de meditações pessimistas). Após discussões severas, o protagonista Roquentin chega, entretanto, à conclusão de que não vale mais a pena discutir, pois a mente do Autodidata definitivamente não está preparada nem disposta a ouvir seus intricados conceitos, os quais seriam a perdição absoluta de qualquer humanista. Um episódio bastante interessante a ser citado e que ocorre durante um dos encontros dos dois na biblioteca municipal é a morte de uma mosca, esmagada por Roquentin em frente ao Autodidata. Ignorando os pedidos do bibliotecário, Roquentin esmaga a mosca e declara consternado: "Simplesmente libertei-a de sua existência, era um favor a prestar a ela!". É, sem dúvida, um episódio que deixa bem clara a melancolia advinda do existencialismo sartriano.

Música e Existencialismo

Logo no início da obra, Roquentin é bruscamente retirado de sua incessante náusea por uma composição jazzística de nome "Some of These Days". A princípio, essa correlação entre alívio e música é bastante misteriosa para o protagonista, mas, aos poucos, ele acaba por entender sua razão. Depois, analisando a atitude daqueles que ele chama de "imbecis", ou seja, aqueles que vão às salas de concertos buscando o esquecimento dos problemas ou aqueles que buscam superar suas crises com os "Prelúdios de Chopin", Roquentin conclui que essas pessoas tentam se deixar tocar pela música, como se essa fosse capaz de penetrar os poros do corpo e os vazios da mente, provocando uma mudança de sensações. Na verdade, isso pode ser apontado como mais um mecanismo de esquiva da existência penosa e intratável, de forma que, ao invés de sofrer pura e simplesmente, cada ser humano busca um sofrimento ritmado, melódico, ou como o próprio Roquentin infere: "É preciso sofrer em compasso". Ele vê-se, portanto, inserido nesse contexto de humanidade, tendo sofrido do mesmo engano que qualquer outro ser humano sofre, ao deixar-se invadir pela música tantas vezes citada "Some of These Days".

A verdadeira existência

Ao final da obra, após ter reencontrado sua mulher Anny, pela qual ainda pensava nutrir fortes sentimentos, Antoine Roquentin descobre que já não havia entre eles mais nada, exceto a simples repugnância entre quaisquer duas existências, o que o abala extremamente e o leva e abandonar Bouville definitivamente. Antes de partir, entretanto, ele termina por fazer suas reflexões mais escaldantes de toda a obra. Usando de sua ampla visão e conhecimentos, ele divaga sobre o que é a existência definitiva e as relações entre as existências simplórias que encontramos por toda parte, sempre à espreita.
Para ele, por exemplo, a idéia da existência de uma árvore passa a ser gratuita e absurda como qualquer outra existência e o absurdo reside no próprio fato de se existir, isto é, torna-se um absurdo à medida que se existe, pois a existência é desprovida de uma lógica que a fundamente. Já no campo da matemática, uma circunferência encontra em si mesma uma lógica definida e clara - o giro completo de um segmento de reta lhe confere seu fundamento. Logo, o que existe é absurdo exatamente pelo fato de existir e deixa-se o absurdo à medida que se deixa a existência. Também o tempo é visto de uma forma intrigante, sendo nada mais nada menos que a nossa percepção sensitiva da mudança entre duas existências. O tempo, pouco conceituável fisicamente, torna-se filosoficamente algo de simplicidade interessante - entre duas existências e uma observação externa, configura-se a noção de tempo.
Para selar o pessimismo que é detonado a cada página, Roquentin diz ainda que, algum dia, ele vai esbarrar nas ruas com homens cujas línguas estejam transformadas em lacraias e suas feições completamente animalizadas, pois, em sua visão, a igualdade de todas as existências poderia tornar os homens cada vez mais "existentes", simplesmente "existentes", como as próprias lacraias o são. O marquês de Rollebon, origem de sua vinda a Bouville, tornara-se, para ele, uma simples fuga de si mesmo, um homem buscando abandonar sua existência e mergulhar na de outro, numa tentativa naturalmente frustrada. Uma das últimas coisas que ele faz em Bouville, antes de tomar seu trem, é sentar-se num banco e observar as existências que o rodeiam, seja a de um lago, a de uma árvore ou a de cada pessoa que ele observa.
Devemos ter em vista, ainda, que "A Náusea" é uma obra que cresceu numa mente inquieta e repleta de conceitos complicadíssimos e, até certo ponto, chocantes - a mente de Sartre. Cresceu também num solo fértil para tais contestações existenciais - um palco beligerante que encaminhava a Segunda Guerra Mundial (iniciada em 1939, um ano após a publicação da obra). Inegavelmente, a obra traz conceitos revolucionários e dissonantes de qualquer forma filosófica precedente, sendo amada por uns e renegada por outros, sem, todavia, perder sua importância no cenário da filosofia do século XX.
 Autor:  Marcelo Sobrinho Mendonça

Mito da caverna

 Mensagem bastante interesante no qual escolhi para abrir a primeira postagem do meu blog. Muito boa para refletir, a autoria desta mensagem é de Ale

Todos os dias travamos uma série de relações com outras pessoas e com as coisas do mundo. Lidamos com coisas das quais gostamos, das quais não gostamos; perguntamos pelas horas, pela data; dizemos ser verdade o que acabamos de dizer, nos equivocamos, mentimos etc. Em geral, para nada disso precisamos pensar, ou seja, realizamos todas essas tarefas automaticamente. Já sabemos de antemão do que gostar, como medir o tempo, distinguir a verdade da mentira, reconhecer um erro, quando e por que optar por mentir etc. Tudo isso aprendemos no decorrer de nossa educação. Herdamos essas informações de nossa cultura. Nossos pais, nossos amigos, ou seja, a sociedade em que vivemos, nos ensina como agir cotidianamente. Estamos mergulhados numa rede de significações, e isso se chama bom senso. Esse mergulho cego é necessário para nos comunicarmos. Os pertencentes a certa comunidade compartilham da mesma rede de significações, por isso se entendem. Essa relação com o mundo é imediata e é a comum para todos nós na grande maioria das vezes. Lidamos, portanto, com o entendimento das coisas e pessoas em geral de modo passivo. Não estabelecemos uma investigação profunda das características morais e psíquicas de alguém para somente aí dizermos se gostamos ou não da pessoa, assim como não questionamos a todo momento o que realmente significa todas as crenças presentes em nossas conversas cotidianas para então conversarmos. Não obstante, se por algum motivo começamos a perceber ou desconfiar de que "as coisas" não são bem assim, ficamos mas atentos, contemplativos, a espera de descobrir algo que não se sabe ainda o que é. Essa "desconfiança" de que há algo errado ou, pelo menos, estranho em tudo o que vemos representa uma crise no modo de entendermos as coisas. O referido mergulho na rede de significações cotidianas e a crise resultante do colocar em questão essa mesma rede são muito bem ilustrados pelo mito da caverna de Platão:

  Trata-se de um diálogo metafórico onde as falas na primeira pessoa são de Sócrates, e seus interlocutores, Glauco e Adimato, são os irmãos mais novos de Platão. No diálogo, é dada ênfase ao processo de conhecimento, mostrando a visão de mundo do ignorante, que vive de senso comum, e do filósofo, na sua empreitada rumo à verdade.

  Mito da Caverna (resumo)

  Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração, seres humanos estão aprisionados. Suas pernas e seus pescoços estão algemados de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas para frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, de modo que se possa, na semi-obscuridade, enxergar o que se passa no interior. A luz que ali entra provém de uma imensa e alta fogueira externa. Entre ela e os prisioneiros - no exterior, portanto - há um caminho ascendente ao longo do qual foi erguida uma mureta, como se fosse a parte fronteira de um palco de marionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens transportam estatuetas de todo tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas as coisas.
  Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os prisioneiros enxergam na parede do fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas, mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as transportam. Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas são as próprias coisas. Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens (estatuetas de coisas), nem que há outros seres humanos reais fora da caverna. Também não podem saber que enxergam porque há a fogueira e a luz no exterior e imaginam que toda luminosidade possível é a que reina na caverna. Que aconteceria, indaga Platão, se alguém libertasse os prisioneiros? Que faria um prisioneiro libertado? Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os outros seres humanos, a mureta, as estatuetas e a fogueira. Embora dolorido pelos anos de imobilidade, começaria a caminhar, dirigi ndo-se à entrada da caverna e, deparando com o caminho ascendente, nele adentraria. Num primeiro momento, ficaria completamente cego, pois a fogueira na verdade é a luz do sol e ele ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-se com a claridade, veria os homens que transportam as estatuetas e, prosseguindo no caminho, enxergaria as próprias coisas, descobrindo que, durante toda sua vida, não vira senão sombras de imagens (as sombras das estatuetas projetadas no fundo da caverna) e que somente agora está contemplando a própria realidade. Libertado e conhecedor do mundo, o prisioneiro regressaria à caverna, ficaria desnorteado pela escuridão, contaria aos outros o que viu e tentaria libertá-los. Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros zombariam dele, não acreditariam em suas palavras e, se não conseguissem silenciá-lo com suas caçoadas, tentariam fazê-lo espancando-o e, se mesmo assim, ele teimasse em afirmar o que viu e os convidasse a sair da caverna, certamente acabariam por matá-lo. Mas, quem sabe, alguns poderiam ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, também decidissem sair da caverna rumo à realidade.

O que é a caverna? O mundo em que vivemos. Que são as sombras das estatuetas? As coisas materiais e sensoriais que percebemos. Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da caverna? O filósofo. O que é a luz exterior do sol? A luz da verdade. O que é o mundo exterior? O mundo das idéias verdadeiras ou da verdadeira realidade. Qual o instrumento que liberta o filósofo e com o qual ele deseja libertar os outros prisioneiros? A dialética. O que é a visão do mundo real iluminado? A Filosofia. Por que os prisioneiros zombam, espancam e matam o filósofo (Platão está se referindo à condenação de Sócrates à morte pela assembléia ateniense)? Porque imaginam que o mundo sensível é o mundo real e o único verdadeiro.