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domingo, 19 de setembro de 2010

Mito da caverna

 Mensagem bastante interesante no qual escolhi para abrir a primeira postagem do meu blog. Muito boa para refletir, a autoria desta mensagem é de Ale

Todos os dias travamos uma série de relações com outras pessoas e com as coisas do mundo. Lidamos com coisas das quais gostamos, das quais não gostamos; perguntamos pelas horas, pela data; dizemos ser verdade o que acabamos de dizer, nos equivocamos, mentimos etc. Em geral, para nada disso precisamos pensar, ou seja, realizamos todas essas tarefas automaticamente. Já sabemos de antemão do que gostar, como medir o tempo, distinguir a verdade da mentira, reconhecer um erro, quando e por que optar por mentir etc. Tudo isso aprendemos no decorrer de nossa educação. Herdamos essas informações de nossa cultura. Nossos pais, nossos amigos, ou seja, a sociedade em que vivemos, nos ensina como agir cotidianamente. Estamos mergulhados numa rede de significações, e isso se chama bom senso. Esse mergulho cego é necessário para nos comunicarmos. Os pertencentes a certa comunidade compartilham da mesma rede de significações, por isso se entendem. Essa relação com o mundo é imediata e é a comum para todos nós na grande maioria das vezes. Lidamos, portanto, com o entendimento das coisas e pessoas em geral de modo passivo. Não estabelecemos uma investigação profunda das características morais e psíquicas de alguém para somente aí dizermos se gostamos ou não da pessoa, assim como não questionamos a todo momento o que realmente significa todas as crenças presentes em nossas conversas cotidianas para então conversarmos. Não obstante, se por algum motivo começamos a perceber ou desconfiar de que "as coisas" não são bem assim, ficamos mas atentos, contemplativos, a espera de descobrir algo que não se sabe ainda o que é. Essa "desconfiança" de que há algo errado ou, pelo menos, estranho em tudo o que vemos representa uma crise no modo de entendermos as coisas. O referido mergulho na rede de significações cotidianas e a crise resultante do colocar em questão essa mesma rede são muito bem ilustrados pelo mito da caverna de Platão:

  Trata-se de um diálogo metafórico onde as falas na primeira pessoa são de Sócrates, e seus interlocutores, Glauco e Adimato, são os irmãos mais novos de Platão. No diálogo, é dada ênfase ao processo de conhecimento, mostrando a visão de mundo do ignorante, que vive de senso comum, e do filósofo, na sua empreitada rumo à verdade.

  Mito da Caverna (resumo)

  Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração, seres humanos estão aprisionados. Suas pernas e seus pescoços estão algemados de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas para frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, de modo que se possa, na semi-obscuridade, enxergar o que se passa no interior. A luz que ali entra provém de uma imensa e alta fogueira externa. Entre ela e os prisioneiros - no exterior, portanto - há um caminho ascendente ao longo do qual foi erguida uma mureta, como se fosse a parte fronteira de um palco de marionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens transportam estatuetas de todo tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas as coisas.
  Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os prisioneiros enxergam na parede do fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas, mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as transportam. Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas são as próprias coisas. Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens (estatuetas de coisas), nem que há outros seres humanos reais fora da caverna. Também não podem saber que enxergam porque há a fogueira e a luz no exterior e imaginam que toda luminosidade possível é a que reina na caverna. Que aconteceria, indaga Platão, se alguém libertasse os prisioneiros? Que faria um prisioneiro libertado? Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os outros seres humanos, a mureta, as estatuetas e a fogueira. Embora dolorido pelos anos de imobilidade, começaria a caminhar, dirigi ndo-se à entrada da caverna e, deparando com o caminho ascendente, nele adentraria. Num primeiro momento, ficaria completamente cego, pois a fogueira na verdade é a luz do sol e ele ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-se com a claridade, veria os homens que transportam as estatuetas e, prosseguindo no caminho, enxergaria as próprias coisas, descobrindo que, durante toda sua vida, não vira senão sombras de imagens (as sombras das estatuetas projetadas no fundo da caverna) e que somente agora está contemplando a própria realidade. Libertado e conhecedor do mundo, o prisioneiro regressaria à caverna, ficaria desnorteado pela escuridão, contaria aos outros o que viu e tentaria libertá-los. Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros zombariam dele, não acreditariam em suas palavras e, se não conseguissem silenciá-lo com suas caçoadas, tentariam fazê-lo espancando-o e, se mesmo assim, ele teimasse em afirmar o que viu e os convidasse a sair da caverna, certamente acabariam por matá-lo. Mas, quem sabe, alguns poderiam ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, também decidissem sair da caverna rumo à realidade.

O que é a caverna? O mundo em que vivemos. Que são as sombras das estatuetas? As coisas materiais e sensoriais que percebemos. Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da caverna? O filósofo. O que é a luz exterior do sol? A luz da verdade. O que é o mundo exterior? O mundo das idéias verdadeiras ou da verdadeira realidade. Qual o instrumento que liberta o filósofo e com o qual ele deseja libertar os outros prisioneiros? A dialética. O que é a visão do mundo real iluminado? A Filosofia. Por que os prisioneiros zombam, espancam e matam o filósofo (Platão está se referindo à condenação de Sócrates à morte pela assembléia ateniense)? Porque imaginam que o mundo sensível é o mundo real e o único verdadeiro. 


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